16 abril 2009

Pedagogia Waldorf



Os que lidam com a contação de histórias não deixam de reconhecer, e mesmo ressaltar, os benefícios para o aprendizado das crianças. Por acreditar no papel pedagógico dos contos, fábulas, lendas e mitos, há escolas em Fortaleza que já incluíram a prática na grade curricular e outras que utilizam, mesmo que não diariamente, os grupos de contadores para estimular e ensinar os estudantes de todas as idades.

A pedagoga e coordenadora pedagógica da Escola Waldorf Micael, Assunção Oliveira de Almeida, enumera que, em cada ano, que se distribui entre jardim e a 9ªsérie, há a seleção de narrativas que fazem parte da grade curricular. De acordo com Assunção, as histórias são matéria obrigatória. A exemplo, ela cita que do Jardim ao 1º ano são os contos de fadas que servem de modelos e mexem com a imaginação.

Já na série seguinte, acrescenta-se os chamados contos pedagógicos nos quais os professores elaboram as narrativas para trabalhar temáticas específicas, como agressividade, na turma. Em seguida, são inclusas fábulas e lendas, por meio das quais prioriza-se os valores transmitidos pelos personagens.

No 4º e 5º ano, os educadores valem-se dos mitos da criação do mundo que nas turmas mais velhas são relacionados com a geografia e história da sociedade. ´Os contos, de uma forma geral, trazem a vivência interna da evolução da humanidade. Cada seleção do conto está relacionada com a faixa etária, além de datas comemorativas e épocas do ano. As narrativas desenvolvem a imaginação, a criatividade, a socialização e a liderança que são exigidas no dia-a-dia. Outro ponto é que aguça a capacidade de pensar, agir e sentir", justifica.

Na opinião da pedagoga e diretora da Escola Estadual Padre Guilherme Waessen, localizada no bairro Dias Macedo, Jacira Medeiros de Camelo, ´nas séries iniciais todos os professores deveriam ser contadores de histórias´. Para ela, que com freqüência convida o grupo Era Uma Vez ao colégio, as narrativas orais tornam-se, sobretudo, um estímulo à leitura para os que não têm muito acesso. ´É uma forma de os alunos se aproximarem das histórias e se apropriarem da escrita. Para se ter uma idéia, as crianças menores que têm mais contato com os contadores são as que mais vão à biblioteca´, diz.

FIQUE POR DENTRO

Contação é indicada por pedagogia Waldorf

A Educação Waldorf tem suas bases na Antroposofia - palavra grega que significa ´sabedoria humana´. Criada em 1919, na Alemanha, a pedagogia Waldorf é embasada na concepção de desenvolvimento do ser humano, introduzida por Rudolf Steiner. Na época, Steiner - filósofo, cientista e artista austríaco - foi convidado por Emil Molt, o proprietário da Fábrica de cigarros Waldorf-Astoria, para uma série de palestras para os trabalhadores.

Como resultado, os trabalhadores pediram a Steiner que fundasse e dirigisse uma escola para seus filhos. Steiner concordou, mas colocou condições a fim de que o centro de educação fosse aberto para todas as crianças e dirigido por seus próprios professores.

Na pedagogia, o ser é apreendido nos aspectos físico, psico-emocional e espiritual, segundo as características de cada um e da sua faixa etária, buscando-se uma perfeita integração entre o pensar, o sentir e o querer.

PARA LER E CONTAR

O Segredo da Clave de Sol (Bia Bedran- Ed. Artes e Contos)
Cabeça de Vent (Bia Bedran - Ed. Nova Fronteira)
Como nasceu a alegria (Rubem Alves - Ed. Paulus)
O gambá que não sabia sorrir (Rubem Alves - Ed. Loyola)
Romeu e Julieta (Ruth Rocha - Ed. Ática)
Cachinhos dourados e os três ursos (Ingrid Biesemeyer Bellinghausen - Ed. DCL)
João Felizardo,o Rei dos Negócios (A. Lago- Cosac & Naify)
Passeio na Fazenda (Mary França - Ed. Ática)

BIA BEDRAN
Contadora de histórias, compositora, cantora, professora e mestranda em Ciência da Arte

Desde quando há o hábito de contar histórias?

No início do século XX, não havia televisão no Brasil. A família possuía outra organização. Existia o rádio em que se contavam histórias, funcionando como contadores. Os livros que circulavam eram contados por pais e mães para os que ainda não eram alfabetizados, ao mesmo tempo em que não tinha o aparelho para contar a história. Com a modernidade, o hábito é substituído pela TV e pelo computador. O brasileiro não é um povo que lê. Sempre fomos ricos na tradição oral, que hoje está mais pelo interior. Porém, no século XXI, há um renascimento da contação pelo fato de as crianças estarem mais agitadas. Nos últimos 15, 20 anos o hábito retorna por uma necessidade que a própria modernidade criou.

Qual a importância para os que ouvem e contam?

As histórias promovem grande transformação para o adulto e para a criança em formação. No adulto, há a mudança de olhares, de compreensão e de interpretação dos fatos. O contador da história faz o livro se tornar vivo e a situação vivenciada. Assim, a criança liga diretamente à idéia do conteúdo, da forma. Com os personagens, concordam, discordam, se identificam, se descobrem. Elas começam a conhecer situações que ainda não viveram. Quando acontece, se reportam. As histórias servem de exemplo de como agir e como não fazer também.

Quais habilidades são desenvolvidas?

Estimula-se a interpretação de textos, a capacidade de ouvir, que desenvolve o futuro contar. Afinal, as crianças conseguem coordenar a noção de início, meio e fim, que ajudará na hora de se expressar. Além da expressão oral, com certeza desenvolve também a capacidade de escrita . A criança atuará como leitor/escritor, pois redigirá bem sua carta e será um amante da escrita. O que falta nos tempos de hoje, uma vez que as crianças estão muito agitadas, recebem excesso de informações, assistem aos desenhos animados com ritmo acelerado. A contação estimula a concentração e o envolvimento afetivo com os pais.
Fonte: Diario on line

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