28 fevereiro 2009

Lançamento de livros da Dra. Gudrun Burkhard

09 fevereiro 2009

LIBERTE SEU POTENCIAL COM O CANTO

Por: Maria de Lima
Se você é do tipo que não canta nem no chuveiro porque se julga desafinado, saiba que está perdendo boa chance de se desenvolver soltando a voz. "A voz humana é perfeita como um ser que ressoa no ideal, esperando, porém, por libertação". A frase, da cantora lírica sueca Valborg Werbeck-Svärdström, mostra que desafinado pode ser o conceito que você mantém sobre si, sobre seu potencial e habilidades. Talvez precise apenas ouvir a si mesmo sem julgamento, confrontar o medo de se expor e de errar, dispor-se a compreender e a resgatar sua voz. E tudo isso você pode conseguir com a ajuda do próprio canto.

Cantar combate a timidez, eleva a auto-estima, o autocontrole, a autoconfiança, melhora a comunicação em público e os relacionamentos interpessoais. Estudos mostram que o canto, quando usado de forma terapêutica, é coadjuvante em tratamentos de depressão, síndrome de pânico, problemas respiratórios, transtornos de ansiedade e outras doenças. Tese de doutorado desenvolvida pela professora Adelina Rennó, do Instituto de Psicologia da USP, comprovou a eficácia da cantoterapia no tratamento de pacientes com asma. Sua pesquisa foi baseada nos princípios da Medicina Antroposófica, que vê o homem como um ser integral, cujo bem-estar depende da saúde do corpo, mas também do equilíbrio da mente. A melhora dos pacientes explica-se, em parte, porque o canto é fundamentado na respiração e eles passam a respirar de acordo com as vibrações sonoras recomendadas pelo terapeuta.

Voz como reflexo da personalidade

Adelina conta que primeiro estudou música, foi cantora, regente de coral, deu aula de teoria musical. Relata ainda que na época em que regia um coral infantil, percebeu que a música provocava mudança no comportamento das crianças. "Percebi que as crianças aprendiam música, mas tinha um efeito colateral positivo", recorda-se. A professora deixou a música de lado por um período para estudar psicologia. Concluídos os estudos de psicologia, voltou-se novamente para a música, fez especialização na Alemanha e desenvolveu as pesquisas de mestrado e doutorado sobre cantoterapia, tendo por base a Escola do desvendar da voz, pedagogia de canto desenvolvida pela cantora lírica sueca Valborg Werbeck-Svärdström (1879-1972). Valborg perdeu a voz e conseguiu recuperá-la graças ao método desenvolvido por ela mesma. "É uma técnica em que se pode trabalhar problemas psicológicos e orgânicos", explica Adelina.

A cantoterapia faz parte de um campo maior que a é musicaterapia. A diferença é que a primeira utiliza-se como instrumento a voz, vista pela psicoterapia como retrato da personalidade humana. A voz é o principal canal de comunicação do indivíduo com o mundo a seu redor. "É a expressão máxima do ser humano", define a cantoterapeuta Mechthild Vargas, conhecida apenas por Meca Vargas, também seguidora da Escola do desvendar da voz. "Imagine alguém sem voz, alguém que não pode se expressar por meio das palavras", diz ela. "A voz é a expressão da individualidade". Com a voz e expressão corporal comunica-se por inteiro: expressa-se tristeza, alegria, preocupação, medo, ansiedade, raiva e muitas outras emoções e sentimentos pertencentes à natureza humana. Tanto que é comum pessoas ficarem temporariamente afônicas quando abaladas por um grande trauma.

Cante e encante

A corrente terapêutica adotada por Adelina e Meca consiste em manifestar a voz, que segundo elas, todos têm, mas pode estar bloqueada por medos, preconceitos e outros problemas de origem física ou emocional. Para isso, os terapeutas adotam exercícios específicos, utilizando-se do som das vogais, das consoantes e da música. "A voz é um fenômeno arquétipo," afirma Adelina, usando um termo da psicologia que, com outras palavras, que dizer que a voz é uma espécie de patrimônio da humanidade, um dom que cada um traz consigo.

Portanto, se você acredita que cantar e encantar platéias é um privilégio de músicos consagrados, reveja seu conceito. Para os adeptos da Escola do desvendar da voz, quem se intitula desafinado demonstra que mantém a voz aprisionada por uma corrente de força. É só libertá-la, permitir que ela desabroche e venha à tona. "É como se a voz estivesse encoberta por um véu e quando você a acorda, ela começa a se desenvolver de dentro para fora", explica Meca. Ou seja, o terapeuta, em vez de se preocupar com as causas externas da suposta falta de voz, procura descobrir primeiro as causas internas do problema. "É um trabalho holístico, baseado em várias técnicas", continua Meca.

Escute sua voz interior

A primeira tarefa para despertar a voz é aperfeiçoar a audição interior. É ouvir-se com atenção, sem preconceito e egoísmo. "Escutar a voz que está em seu íntimo, por trás da voz que você normalmente escuta", explica Adelina. Mas para ouvir a própria voz você primeiro precisa predispor-se a cantar. Pode cantar em casa, acompanhando o CD de seu intérprete preferido, em corais - de igrejas, empresas, associações de classe, universidades - em karaokês, festas de aniversário e shows. A idéia é cantar sempre que você tiver oportunidade, mas sem forçar a garganta e sem gritar. Aos poucos, irá soltando sua voz até que ela encontre o próprio ritmo e renasça vigorosa.

Os benefícios para quem empreender essa viagem de autodescoberta prometem ser gratificantes. Começam pelo prazer de entoar a canção preferida para a pessoa amada, para si mesmo e para outras platéias. O canto, observa Meca, ajuda o praticante a combater o estresse, o isolamento social e a soltar-se para expressar-se melhor em público. "É uma das grandes fontes para se trabalhar o lado humano, psíquico e espiritual do indivíduo", diz.

Descubra novas emoções

A professora de música Sonia Joppert, da Oficina de Música que leva seu nome, no Rio de Janeiro, afirma que por meio do canto, faz-se contato com emoções que não podem ser percebidas de maneira racional. Com mais de 15 anos de experiência na área, ela assegura que além da melhoria da voz - cantada e falada - o canto desinibe, aumenta a auto-estima e autoconfiança, elimina antigos bloqueios e leva o praticante a novas descobertas sobre suas potencialidades.

O objetivo da cantoterapia, observa Sonia, é preparar o indivíduo para viver melhor. Ela explica que incluem-se nesse objetivo conhecer melhor as próprias emoções, adquirir confiança e segurança para cantar em público, acabar com a idéia de que não é capaz. "E com isso, cantar muito melhor", diz. Para a professora, o aluno que canta com confiança, carisma e ousadia, acaba por levar essas emoções para a vida pessoal e profissional. Ela lembra que qualquer atividade que proporcione prazer libera a endorfina (substância química responsável pela sensação do bem-estar). "O aumento da endorfina na corrente sangüínea previne doenças como o estresse e melhora a qualidade de vida", frisa.

Sonia acrescenta ainda que dedicar-se a uma atividade lúdica como o canto faz que o praticante descubra um mundo mais tranqüilo, com menos competição. Sem deixar, porém, de explorar o próprio potencial. Seus alunos são submetidos a dinâmicas e treinamentos práticos, cujo objetivo é capacitá-los para atuar em público com desenvoltura. Ela relata que são exercícios com graus de dificuldade gradativos, que respeitam as limitações de cada um, mas preparam o aluno para se expor cada vez mais.

Cante se estiver feliz.

Mas se estiver triste, cante também!

Cantamos geralmente quando nos sentimos alegres, de bem com a vida e com o mundo. Mas o canto é considerado também um remédio para a tristeza. E você nem precisa fingir que está feliz para cantar e espantar o desalento. "Você pode cantar de forma triste, mas aos poucos vai transformando a tristeza até se livrar dela", explica a professora Meca. O importante, segundo a terapeuta, é cantar de forma intencional, com consciência, ainda que seja no chuveiro.

Meca observa, porém, que entre o cantar com objetivo estético - ou apenas para relaxar - e adotar o canto como terapia, há um longo caminho. Ela explica que cantar em grupo funciona como uma prevenção. Embora saudável, cantar em karaokês e em corais ou com o objetivo de aprimorar-se como profissional, não é considerado uma terapia. "Comprar flores pode ser terapêutico para algumas pessoas, mas não é terapia", compara Adelina. Ela observa que terapia pressupõe a existência de um terapeuta - alguém com formação específica para o exercício do cargo -, que vai fazer um diagnóstico, determinar uma linha de tratamento, definir um objetivo.

A professora situa a cantoterapia entre a fisioterapia e psicoterapia. É uma atividade que, segundo ela, busca o desenvolvimento humano como um todo - corpo, alma, espírito e mente -, por meio de várias técnicas e exercícios que são dirigidos com finalidade específica. A escolha das músicas não é aleatória. Em um momento, o terapeuta pode escolher canto gregoriano, se o objetivo for acalmar a pessoa. Em outro, pode optar por uma música mais alegre se quiser levantar o astral do praticante.

Cantar eleva corpo e alma

A professora Adelina ressalta, porém, que cantar, de forma terapêutica ou não, é um exercício saudável para o corpo e a alma. Primeiro, porque é uma atividade que está intimamente ligada à respiração, função vital para o ser humano. "O canto se utiliza do ar e da respiração para que o som surja", explica Adelina. A respiração é praticada em meio à emissão de fonemas, tons, melodias e ritmos. Outro ponto positivo é que cantar é um exercício complexo, que envolve vários órgãos, como a laringe, o diafragma, o pulmão, entre outros, além de equilibrar a emoção. E o melhor: não tem contra-indicação, pode ser praticado por pessoas de todas as idades. "Qualquer idade é a idade certa para melhorarmos como seres humanos", diz Sonia Joppert, que afirma ter alunos entre 12 e 85 anos. "O palco da cantoterapia é o palco da vida", diz.

O fato é que você não precisa, necessariamente, fazer terapia para aplicar os benefícios do canto em sua vida. Adelina lembra que se o objetivo for apenas relaxar, os corais são excelentes escolhas, pois têm importante aspecto social. Neles as pessoas interagem e acabam tornando-se amigas. Meca Vargas ressalta que no início essa interação pode ser muito sutil. "Dá-se apenas pela voz, que vai se misturando uma com as outras", diz. Mas aos poucos vai evoluindo até chegar à fala. "Depois, o participante se libera e pode começar a conversar com outras pessoas", diz.

Quem é muito tímido ou tem tendência para ser o tipo anti-social, pode integrar-se a um coral e tornar a convivência com os outros mais agradável. "O canto é um dos grandes recursos para a sociabilização", afirma Meca. Para a professora, na atual sociedade marcada pela pressa e pelo constante surgimento de novas tecnologias, o canto é uma saída para o ser humano voltar-se para si, para o próprio centro. "O lado técnico é muito bom", afirma Meca. "Mas é importante que o lado humano também seja trabalhado". Adelina concorda e lembra que são muitas as situações cotidianas que alienam o indivíduo. "As pessoas vão perdendo o contato com elas mesmas", afirma a professora. "O canto ajuda a recuperar o equilíbrio", conclui.

Afinada com ambas as professoras, Sonia Joppert destaca que em um estilo de vida estressante como a maioria leva, é preciso encontrar um momento para si, buscar um momento de prazer. "Com isso, "nutrir-se" o suficiente para "alimentar" também quem estiver à sua volta", diz. Com o lema "Cantar para ser feliz", ela lançou recentemente o CD Sonia Joppert canta o lado bom da vida. O disco, feito em parceria como Roberto Menescal, reúne MPB, cujas letras falam de esperança e otimismo.

Origem remota - Acredita-se que o uso das artes de forma terapêutica remonta à Grécia

Antiga. Adelina Rennó dá um exemplo de como o canto é utilizado de forma terapêutica desde os tempos remotos. Ela observa que os rituais de cura, realizados pelos pajés em suas tribos, constituem-se não apenas de remédios, mas também de manifestações artísticas. "Antes de oferecer o remédio para alguém o pajé canta e dança", diz. A professora observa que somente no século XX o uso das artes como terapia passou a ser alvo de investigações científicas. As pesquisas que deram origem à Escola do desvendar da voz, desenvolvidas por Valborg Werbeck-Svärdström, iniciaram-se em 1912. Foram fundamentadas nos princípios da Antroposofia (doutrina espiritual criada pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner, que viveu entre 1861 a 1925).

As descobertas de Valborg foram registradas em um livro com o mesmo título da escola (Escola do desvenda da voz - Um caminho para a redenção na arte do canto), publicado no Brasil pela Editora Antroposófica (www.antroposofica.com.br). A cantora conta no livro como perdeu a voz em plena juventude e a recuperou graças às descobertas de suas pesquisas. Apesar de ter recuperado a voz, ela abandonou a carreira e dedicou o resto de sua vida para aprimorar e difundir seu método de compreensão e desenvolvimento da voz humana. Suas descobertas foram reconhecidas por Rudolf Steiner como "um caminho de auto-educação para o canto".

"Se aprendermos a nos deixar conduzir por nosso ouvido interior e exterior, exercitando a escuta, prestando atenção ao som oculto, então o princípio que dá origem ao tom musical se tornará interiormente audível para nós, e esse som primordial irá aos poucos reluzir em nossos próprios tons e em sua ressonância exterior. Ele será cada vez mais evidente para o ouvido externo, e pouco a pouco se libertará de dentro dos tons presos à corporalidade." Valborg Werbeck-Svärdström

"Assim como o canto dos pássaros enobrece o esplendor da natureza por sua beleza, também o homem, no desabrochar de sua voz, pode tornar sublime este mundo da arte do canto e vir a ser seu co-criador." Astrid Prokofieff
Fonte: Revista Vencer

Antroposofia na Revista Vida Simples

Viva a sociedade alternativa
Estimulando criatividade, despojamento, alimentação saudável, amor à natureza e equilíbrio espiritual, a antroposofia está mostrando que é possível viver melhor e mais feliz, como nos velhos bons tempos

A antroposofia está fascinando muitos brasileiros. Pelo menos 700 médicos utilizam-se de seus princípios, recorrendo a chás e outras receitas caseiras e evitando o excesso de medicamentos. E já há 13 escolas, disputadíssimas, nas quais as crianças aprendem primeiro a viver a vida, envolvidas em atividades realmente infantis, em vez de serem preparadas precocemente para o mercado de trabalho. Existe também um grande laboratório (Weleda), que fabrica remédios, chás e cosméticos naturais, uma editora (Antroposófica), com dezenas de títulos publicados, e até o luxo de uma rede de produtores agrícolas biodinâmicos, que fornece queijos, iogurtes, pães, verduras e frutas de qualidade muito especial.

Criada no começo do século XX pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), essa ciência humanista vem sendo aplicada mundialmente em áreas tão diversas como medicina, educação, agricultura, economia, farmacologia, teatro e artes plásticas, organização social e espiritualidade. Ao pé da letra, trata do conhecimento (sofia, no grego) sobre o ser humano (antropos).

Seu princípio fundamental é a conexão entre o homem, a natureza e o sagrado, que se manifesta em todos os fenômenos, em nível interno e externo, anímico e material. A antroposofia acredita que é preciso desenvolver o homem integralmente, considerando sua alimentação, moradia, relacionamentos sociais e econômicos, bem como sua formação intelectual e sua espiritualidade. Um rio de obviedades, com as quais a maioria de nós concorda perfeitamente. A diferença é que os seguidores da antroposofia não apenas concordam como agem de acordo, na contracorrente, mostrando que é possível compor e manter uma sociedade alternativa mesmo dentro das grandes cidades.

Até a década passada, antroposofia era "coisa de alemão". Em São Paulo, ficava restrita à Escola Waldorf Rudolf Steiner, inaugurada em 1956, e à pequena comunidade que se reunia para o ato de consagração dominical - uma missa comovente baseada no Cristianismo primitivo, onde se comunga pão e vinho e se fala com naturalidade sobre a presença dos anjos na vida cotidiana.

Também criada no final dos anos 50, a Clínica Tobias recebia clientes para toda a sorte de terapias, abrigando consultórios de médicos especialistas, instruídos pelos ensinamentos deixados por Steiner 40 anos antes. Aos poucos, as curas com base em boa alimentação, tratamentos naturais, massagens, música, expressão artística e outras técnicas incomuns ganharam fama por aqui.

No começo, as consultas pareciam meio estranhas. Podia-se sair dali com a receita de um escalda-pés ou uma série de lavagens intestinais. Aconselhava-se a manter os pés quentes e, no inverno, usar chapéu - nossas sábias avós diziam a mesma coisa. Numa época em que ninguém falava de energia vital, os médicos antroposóficos procuravam equilibrá-la com a utilização de sons e gestos corporais, numa técnica chamada euritmia curativa. E, em vez de remédios sintéticos, recomendavam comida boa, massagens, chás e aconchego.

Médicos, dentistas e terapeutas passaram a procurar os cursos de especialização promovidos pela Sociedade de Medicina Antroposófica. Queriam ampliar seu conceito de medicina, para tratar o corpo físico levando em conta a força vital, os sentimentos, as emoções e a espiritualidade de cada um - os alicerces da antroposofia, que, em muito, se assemelha a outras sabedorias orientais e mesmo à de sociedades primitivas.

Steiner, formado em Ciências Exatas e editor das idéias científicas de Goethe - sim, o poeta e escritor alemão do século XIX, que era também um arguto observador da natureza -, jamais abandonou o rigor nas suas pesquisas. "Ele não queria destruir a ciência, só ampliá-la", explica Valdemar Setzer, professor do Instituto de Matemática da Universidade de São Paulo (USP) e um dos responsáveis pelo curso Introdução à Antroposofia, da Sociedade Brasileira de Antroposofia. "Steiner sabia que não existe apenas o mundo físico e que a cura envolve também os campos bio-energéticos mais sutis do ser humano."

Diz-se de Rudolf Steiner que podia observar nas pessoas a energia que as cercava e permeava. Essa energia, segundo ele, era diferente de acordo com a natureza dos sentimentos e das emoções. E turvava-se no caso de doenças que ainda não haviam se manifestado no corpo físico.

Os quatro corpos
Durante alguns anos, Steiner esteve ligado à teosofia, sistema espiritual e filosófico que dividia os campos energéticos do homem em quatro diferentes corpos. Para os teosóficos, o corpo físico, considerado o primeiro corpo, é apenas a parte mais densa, material e visível dos outros três, feitos de substâncias mais finas, invisíveis aos olhos e não detectáveis por qualquer método ou aparelho científico. O segundo corpo é uma espécie de campo de força vital, chamado corpo etérico ou campo plasmador de energia. O terceiro corpo, que registra todas as sensações, emoções e sentimentos, é chamado de corpo astral, porque acredita-se que possa receber influência direta dos astros e de energias cósmicas. O quarto corpo, ou corpo espiritual, é onde se formam os conceitos e a noção da própria individualidade. Sua gestação é estimulada por meio de meditação, oração e comunhão, entre outras práticas.

Estava claro para Steiner que a medicina não poderia ignorar a existência desses quatro corpos. Muito menos a educação. Ele dizia que a formação de cada um dos corpos acontecia aos poucos, em períodos definidos de sete anos, e que esse ciclo deveria ser respeitado. A atividade física e motora, assim como a estimulação dos sentidos, são muito importantes no período de formação do corpo etérico, relacionado à força vital. O ensino de artes plásticas é essencial na formação do corpo astral, ligado às emoções e sentimentos.

Em 1919, Steiner começou a pôr em prática seus inumeráveis conhecimentos teóricos em Stuttgart, na Alemanha. Trabalhando numa escolinha para os funcionários da fábrica de cigarros Waldorf-Astoria (daí a origem do "Waldorf" como sinônimo de antroposofia), ele pôde aplicar o que intuitivamente sabia e o que tinha aprendido. O resultado surpreende ainda hoje e talvez como nunca. O impulso à criatividade e à autonomia, o amor à natureza e às artes, a prática da meditação e o conhecimento espiritual estão se transformando no projeto de vida de mais e mais pessoas, aqui e em todo o mundo.

Arquitetura orgânica
A saudável bagunça que pode existir na casa de uma família antroposófica causaria arrepios em um consultor de Feng Shui. Mas, nesse ambiente, graças a Deus, as pessoas vêm em primeiro lugar. Depois, sim, consideram-se os móveis, a decoração e a ordem. Os sofás serão mais macios e confortáveis do que propriamente bonitos. A madeira estará muito presente nos móveis sólidos e pesados - em geral, feitos em marcenarias de pessoas que seguem a linha de pensamento Waldorf - e as cores das paredes lembrarão as tonalidades da terra: bege, ocre, marrom, creme, caramelo.

Quem sabe, virá da cozinha o cheiro do pão feito na hora. E se houver crianças na família, provavelmente você encontrará bichinhos de madeira ou bonequinhas de pano pelo chão. Em suma, uma casa sem frescuras, onde qualquer um entra e fica à vontade. "Temos muito respeito pela liberdade e pela individualidade de cada um", diz Ana Vieira Pereira, de Botucatu, interior de São Paulo, professora de literatura, mãe de quatro filhos, e moradora da casa que você acaba de visitar.

Habituados a ângulos e linhas retas, nossos olhos reagem dançando num primeiro contato com a arquitetura antroposófica. Assim como no espanhol Gaudí ou no americano Frank Lloyd Wright, incorporam-se formas orgânicas e naturais, mas considerando ainda os aspectos energético e espiritual do uso de cada ambiente.

As janelas não são simétricas e as paredes podem, por exemplo, estar colocadas em forma de trapézio, já que essa forma, acreditam, tem ligação com a liberdade e a individualidade. Para cada ambiente há soluções que levam em conta as dimensões mais sutis do ser humano. "A arquitetura orgânica tem o brilho da vida. Ela é dinâmica, tem fluidez e movimento", diz Michael Moesch, arquiteto responsável pelo projeto de muitas casas, fábricas e escolas de inspiração antroposófica no Brasil.

Uma pedagogia que respeita a alma
Aos nove anos, os alunos plantam trigo, colhem, moem a farinha, preparam o pão em forninhos de barro que eles próprios fizeram. Assim, aprendem uma das lições do tema "de onde as coisas vêm", que compõe o conteúdo nesse período. Quando aprendem a escrever, fazem o caminho do calígrafo - experimentam o lápis, a pena de ganso, a caneta tinteiro. As aulas de História falam também de lendas e mitos - como o de Atlântida, o continente que foi engolido pelas águas, citado por Platão. O violino, um dos instrumentos mais usados nas classes, estimula a área ao redor do peito - assim, as cordas fazem vibrar o coração, o que promove o despertar das emoções. "Tudo é pensado para acompanhar o desenvolvimento anímico, energético e espiritual", explica Celina Targa, professora da Escola Waldorf Micael, em São Paulo. A escola antroposófica não é feita para pais ansiosos (a alfabetização, por exemplo, só acontece no ano em que a criança completa sete anos).Os pais são convidados a participar, e muito, de todas as atividades. "Pode até se dizer que eles se matriculam junto com o filho", diz Celina.

Há pouco tempo, por exemplo, um grupo de pais da Escola Micael plantou trigo, moeu, cortou a massa numa antiga máquina de madeira trazida de Santa Catarina e se deliciou com uma macarronada feita com as próprias mãos. Tudo para compartilhar do aprendizado de seus filhos. E isso não acontece de vez em quando: sempre tem.

Espiritualidade na plantação
Outro ramo importante da antroposofia é a agricultura biodinâmica, que, além de ser orgânica (não utiliza adubos, aditivos ou inseticidas químicos), também respeita o caráter energético e vital dos alimentos. A plantação recebe diferentes "preparados". Há fórmulas de inspiração homeopática com base em substâncias naturais como cristal ou esterco, às quais se atribui o poder de concentrar energias. Os insetos podem ser combatidos com o cultivo de vegetais que os afugentam ou, de novo, com preparados energéticos. Os ciclos e influências planetárias também são considerados. Para completar, é comum o agricultor antroposófico ser alguém que se exercita nas artes, que faz teatro e medita. Ele é o que se pode chamar de um homem integral, tal qual sua plantação.

O resultado é previsivelmente saudável e delicioso. (Na visita à fazenda, tive o privilégio de provar o manjericão e as nozes de um notável molho de pesto, além de um iogurte sem qualquer acidez e um pão com sementes de girassol que, mesmo em quantidade, não pesou no estômago.)

Um dos pioneiros dessa história é o gaúcho Paulo Cabrera, que administra a Estância Demétria e o Sítio Bahia, áreas de agricultura e criação biodinâmicas em Botucatu (a presença da antroposofia nessa cidade é marcante e, nos últimos 20 anos, formou-se uma grande comunidade no entorno das plantações). Assim como quase todos os professores e agricultores Waldorf, ele se especializou na Europa - no caso, o prestigiado curso de Agricultura do Emerson College, na Inglaterra.

Ao lado de outras quatro famílias e alguns funcionários, Cabrera produz vários tipos de laticínios, pães, geléias e mel. "O mais importante é que conseguimos preservar os princípios antroposóficos na maneira de ser. Montamos peças de teatro no Natal, Páscoa e Pentecostes. E temos aulas de euritmia, que trabalha a parte emocional", conta ele. "O sentido mais profundo do nosso trabalho é desenvolver a consciência e a espiritualidade."

Marco Bertalot, professor de Agricultura Biodinâmica e um dos fundadores da Estância Demétria, explica de outro jeito. "A antroposofia estimula o lado direito do cérebro, responsável pela sensibilidade e pelo pendor artístico. É uma contrapartida à sociedade atual, que leva em consideração apenas o lado esquerdo do cérebro, o da racionalidade, da objetividade."

Apesar de muitos princípios e crenças, a antroposofia não é dogmática, não exige comprometimento total com suas cartilhas. Também não é seita, nem clube de associados, o que a torna simpática aos novos seguidores. Ao que parece, o admirável conhecimento deixado por Rudolf Steiner está se consolidando naturalmente porque é um manancial de soluções de bom senso para todos que percebem as relações entre o Homem, o planeta e o divino. E tem mesmo muito a ver com nossas avós. "A antroposofia recupera o lado feminino", resume Marco Bertalot. "É o lado do amor, da proteção, do cuidado."

ONDE ENCONTRAR ANTROPOSOFIA
LIVROS
Noções Básicas de Antroposofia e Pedagogia Waldorf, de Rudolf Lanz, ambos da Editora Antroposófica

ESCOLAS
Waldorf Micael, São Paulo, recebe pais interessados em conhecer o local e os métodos de ensino: (11) 3782-4892. A Waldorf Rudolf Steiner, também em São Paulo, é pioneira da pedagogia antroposófica: (11) 5523-6655

ALIMENTAÇÃO
Produtos da Estância Demétria e do Sítio Bahia são encontrados na feirinha orgânica do Parque da Água Branca, São Paulo, ou na Bioloja, Botucatu: (14) 6822-2753 demetria@yahoo.com.br

SITE
Boas informações podem ser obtidas no site www.sab.org
Fonte: Revista Vida Simples

06 fevereiro 2009

Tecendo o Fio do Destino: Autoconhecimento pela Antroposofia

tecendoCada um de nós nasce com um destino, não como um livro previamente escrito em que cada ato nosso está previsto, mas como uma missão a nós confiada. Isto faz com que a vida tenha um sentido e, muitas vezes, sofremos com angústia ou depressão por não percebê-lo claramente. Os fatos de nossas vidas estão aí para que encontremos o Fio do Destino que, junto com o nosso livre arbítrio, tece os acontecimentos tanto no nosso mundo interior quanto na nossa vida nas comunidades em que vivemos.
Este curso tem o objetivo de buscar o fio do destino de cada um, desembaraçá-lo, tecê-lo de forma diferente, mais confortável, mais de acordo com o sentido que queremos dar para nossas vidas. Para isso trabalharemos com fatos de nossas próprias vidas. Este trabalho será feito com palavras e arte, como aquarela, modelagem em argila, tricô, desenho, contos de fadas, vídeos, teatro, etc. Ninguém precisa ser artista para participar, é claro. Porém será uma oportunidade de apropriar -se da sua obra mais importante: a sua história, tornando-se dono e artífice da mesma. E desta forma, acrescentar detalhes, retocar e dar acabamentos em qualquer momento da sua vida.
Muitas das questões que nos colocamos hoje são percebidas de modo diferente quando as situamos no contexto mais amplo da vida toda. A troca de experiências de vida num grupo é enriquecedora e suaviza os sentimentos ligados a essas experiências. Permite identificações além de possibilitar um olhar de fora, como quando assistimos um filme, sendo testemunhas de fatos comuns, arquetípicos, ao desenvolvimento do ser humano.
Em Niterói, o Tecendo o Fio do Destino será realizado em 8 encontros quinzenais, começando em 17 de março, de 19h às 22h.
  • O valor total do workshop é R$ 680,00, divididos em 4 parcelas (cheques pré-datados) de R$170,00, sendo que a inscrição se dá mediante pagamento da 1ª parcela.
  • Os inscritos até 28 de fevereiro terão um desconto e o custo total passa a ser R$560,00 ou 4 parcelas de R$140,00 (cheques pré-datados).
  • E os inscritos até 14 de março também terão desconto, passando o custo total para R$600,00, ou 4 parcelas de R$150,00 (cheques pré-datados).
O número mínimo de participantes para a realização do curso é de 8 pessoas. Inscreva-se já, pessoalmente na Glia Cultura e Aprendizagem ou pelos telefones (21)3601-2092 e (21)7697-8982. Coordenação: Marcelo Guerra.


Em breve, teremos a definição de datas em que realizaremos o workshop em Nova Friburgo e Juiz de Fora. Fique de olho! Salve o endereço do site nos favoritos do seu navegador e nos visite. As Vagas são limitadas, e já estamos fazendo reservas para essas cidades.


Rua Nilo Peçanha, 142 – Ingá




  • Em Nova Friburgo: DAO Terapias


Rua Ernesto Brasílio, 14/408 - Centro



Contatos e informações:
Rosângela: (32)8841-8660
santana@terapiabiografica.com.br
Marcelo: (21)7697-8982 ou (22)9254-4866 (deixar mensagem de voz ou de texto)
marceloguerra@terapiabiografica.com.br